Para não esquecer...

O meu ar(es)quivo de ex-citações [5]

O sexo e o pecado

"Quando Santo Agostinho escreveu A Cidade de Deus e associou pela primeira vez o sexo ao pecado, fê-lo porque tinha uma agenda importantíssima a cumprir. Quatrocentos anos depois de Cristo, com a Europa mergulhada no negrume da barbárie e tudo a correr tão mal que até o clima se tornara uma charada de tormentas, não faltava quem dissesse que eram os deuses clássicos que estavam a vingar-se por terem sido repudiados pelos imperadores convertidos. Era urgente refutar esse argumento, e apontar a dedo a dissolução sexual do império romano era a via mais óbvia" (Clara Pinto Correia in Diário de Notícias de 8/Mai/1994)

escrito por ai.valhamedeus [ex-citação 4] [ex-citação 6]

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Ainda as caricaturas

Sempre defendi que as ideias se combatem com ideias (já me disseram que isto é do Churchill). E defendo que toda a gente deve defender as suas ideias e deve ter direito a expô-las, sejam elas quais forem. Não penso que no caso das caricaturas de Maomé seja diferente.

Mas neste caso há algumas particularidades. Há aqui muito petróleo envolvido e há uma mole imensa de gente que professa uma religião que se sentiu ofendida. Tiremos estes dois elementos (ou um só) e a coisa ficaria reduzida a nada.

Papa com preservativoHá uns anos, o António, no Expresso, caricaturizou o Papa com um perservativo enfiado no nariz. Houve chinfrim. Tivesse a Igreja Católica a força de antanho e teríamos consequências. Mas como a Igreja Católica está na mesma situação que o lince da Malcata...

Há uns anitos tivemos a mesma histeria folclórica aquando do filme je vous salue, Marie de Jean-Luc Godard. Em Lisboa, até o presidente da Câmara Municipal, Krus Abecassis, fez vigília. Nada aconteceu. Não havia poder económico, nem a gente era muita.

O nosso governo e os nossos governantes (mesmo os do poder eclesiástico) lá vão dizendo que há que respeitar a religião dos outros e as diferenças. Cá não temos um litro de petróleo.... e somos poucos.

Já dizia Lenine (anda tão esquecido este rapaz!), sem independência económica não há independência política. Sem poder, ninguém nos tem respeito. Viva o petróleo!

escrito por Carlos M. E. Lopes [texto anterior sobre o tema]

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A era do digital

NikonO digital está a derrotar, nalguns domínios definitivamente, o analógico. Poderíamos ilustrar a afirmação a partir da música (onde o cd praticamente mandou para o caixote do lixo o vinil).

Seja, no entanto, o exemplo da fotografia. A Nikon (uma marca de referência no fabrico de máquinas que fizeram ao longo de décadas as delícias de muitos fotógrafos) já anunciou que abandonará o ciclo das máquinas analógicas. A Konica Minolta fez o mesmo, a Kodak fizera -o há 2 anos e outras marcas lendárias ou fecharam ou vivem em grandes dificuldades de sobrevivência. Os produtos digitais já representam para a Nikon 95% do seu negócio.

Algumas das razões de tal êxito são evidentes: o menor custo, por exemplo. Mas há outras, algumas das quais têm que ver com o que poderíamos chamar uma certa filosofia do digital: a facilidade da (re)criação do mundo. Explico-me melhor transcrevendo o que Pedro Rolo Duarte escreveu há uns anos na DNA:

Registar e apagar — eis o argumento da fotografia digital. Eis um sinal que pode ser associado ao fim do século: escrever a história e reescrever quantas vezes se quiser, da forma que se quiser. Fotografar a realidade e fazê-la desaparecer — ou, pelo contrário, ampliá-la e dar-lhe a dimensão que jamais sonhou ter. Mudar o mundo. Nem que seja o nosso ínfimo mundo.

Há nesta geração digital — que não passa apenas pela fotografia mas chega aos cd's onde podemos construir a sequência musical que mais nos agrada, contrariando criadores, produtores e músicos, ou à televisão, ou ao cinema — uma nova ordem de informação, de registo, de documentação, que altera radicalmente ideias preconcebidas sobre o jornalismo, a verdade, o momento que se vive.

À nova ordem chamaria desordem. À desordem chamaria «privatização da realidade». Agora, a realidade é de cada um de nós. A tecnologia permite-nos privatizá-la até ao fim.


escrito por ai.valhamedeus

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...em vias de extinção (1)

LareiraMuitos dos (novos) valores das sociedades de consumo dirigidas

(um conceito que devo a Henri Lefebvre, a partir do seu velhinho A Vida Quotidiana no Mundo Moderno. Lisboa: Ed. Ulisseia, 1969)
são o resultado da electricidade
(recordo a propósito um livrinho, também velhinho, de Arnold Gehlen: A alma na era da técnica: problemas de Psicologia social na sociedade industrializada. Lisboa : Livros do Brasil, [196-?]).
Por isso e de certo modo, as lareiras podem ser o símbolo das sociedades rurais em vias de extinção.

escrito por ai.valhamedeus

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Os casamentos homossexuais (2)

Bem andaram a Helena e Teresa a quererem casar. Isso permitiu alguma discussão, enquanto o Sr. Gates andava na sua (dele) propaganda e da sua Microsoft.

O casamento é um contrato eterno -- antigamente, antigamente, que o diga Augusto Gil. Tal como o amor, é eterno... enquanto dura. As senhoras querem casar. Não sei se fazem bem, mas penso que nada as deveria impedir desse desiderato.

Penso que a lei não as impede de viver juntas, de dormir juntas, de sair juntas. Nada as impede de se amar profundamente. A história está cheia de casos desses. Serão, e enquanto a “estranheza” durar, olhadas de soslaio, marginalizadas, alvo de discriminação. Quanto a isso, pouco a pouco se há-de fazer... diferente.

É uma união estranha? É, por enquanto. Mas o casamento que lhes trará? Efeitos importantes no capítulo patrimonial. Por exemplo, serem herdeiras uma da outra. É de somenos? Não. A nossa lei impõe herdeiros, à força. Se casadas, podem herdar uma da outra.

Quanto à perfilhação, não vejo o escândalo.

Supondo que uma mulher, ou um homem, resolve assumir-se ou descobre (não sei como é isso, mas parece que é assim) ser homossexual, depois de já ter filhos... estará impedido(a) de exercer o poder paternal e ter os filhos à sua guarda? Algo impedirá uma mulher de ter um filho in vitro, mesmo sendo homossexual? Porque não pode adoptar? Será um filho criado e educado num meio homossexual mais problemático ou mais marginal do que numa família tradicional, mas com todo o tipo de dificuldades, agressões físicas, pobreza que conhecemos (vide o caso Joana e outros)?

Não estaremos a ser hipócritas neste caso, como noutros?

A Igreja já mostrou a sua hipocrisia ao impedir a homossexualidade entre os seus ministros (pensava eu que a castidade era um dos votos para quem se ordenasse e, por isso, imune a essas coisas do sexo. Afinal são sexualmente activos). Caminhamos no mesmo sentido?

escrito por Carlos M. E. Lopes

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Casamentos homossexuais

É frequente ouvir contra o casamento de homossexuais o argumento de que estes querem transformar em normal um casamento anormal. Esgrimia-o ontem Vicente Jorge Silva na Antena 2 : declarou brevemente que nada tinha contra a união de pessoas do mesmo sexo, e logo a seguir explicou que a) discordava do espalhafato feito em torno do assunto (outra ideia que mereceria comentário); b) não percebia como é que pessoas que não aceitam o casamento institucionalizado querem.... casar -- defendendo que o normal seria que vivessem em união de facto.

Acho o argumento tão evidentemente disparatado que chego a temer a minha evidência. Porque é que (lutar pela permissão de) casar (casar, repito) com uma pessoa do mesmo sexo está em contradição com o acto de casar? dito de outro modo: será que um casamento oficializado/institucionalizado só pode acontecer entre pessoas de sexo diferente?

escrito por ai.valhamedeus

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Mendelssohn

Há coincidências felizes. Foi em virtude de uma que comecei a gostar de (e ouvir) "música concertante". Quase simultaneamente comprei o livro O Concerto (Lisboa: Ulisseia) e descobri o mais divulgado dos Concertos para piano e orquestra de Tchaikovsky (de que é impossível não gostar, mesmo sem a orientação de Ralph Hill, o autor do referido livro).

Logo a seguir, foi a felicidade do popular Concerto para violino em mi menor, op. 64 de Felix Mendelssohn. Sublime. Encantador. Apaixonante e apaixonado. Quem não gosta disto não é merecedor do dom da audição. Digo eu...

Felix Mendelssohn-Bartholdy faz hoje 187 anos. Os meus parabéns!

escrito por ai.valhamedeus

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Referenciação bibliográfica - Internet

Alguns amigos têm-me manifestado dúvidas em relação ao modo de registar as referências bibliográficas nos trabalhos científicos, quando essas referências dizem respeito a documentos da Internet. Deixo aqui o registo: essas referências são feitas com base no autor e título do documento, seguidos do respectivo endereço electrónico (este, grafado em itálico).

Seja este exemplo (nb: o endereço é escrito a seguir ao título, sem quebra de linha; se vir uma quebra, ela resulta da formatação desta página):

SÉRGIO, Manuel - A Educação Popular em Paulo Freire. http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3497.

escrito por ai.valhamedeus

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As caricaturas da discórdia

O grande destaque do "Le Monde" de amanhã é a crise crescente gerada pela publicação (em Setembro passado num jornal dinamarquês e entretanto reproduzidos noutros de vários países) de desenhos que representam satiricamente o profeta Maomé. A coisa está a provocar manifestações de hostilidade nos países árabes e protestos dos muçulmanos e das suas autoridades religiosas ou políticas, um pouco por todo o mundo. E ameaças de bombas.

Aqui se misturariam questões como a liberdade de expressão ou o direito à caricatura. Ou o respeito pelas crenças e convicções íntimas de cada indivíduo (se, para o Islão, qualquer representação de Maomé é blasfema, adivinha-se facilmente o efeito provocado por caricaturas como aquela que representava o Profeta com um turbante em forma de bomba).

Em defesa de caricaturas livres, o Editorial acentua a ideia de que as religiões são sistemas de pensamento, construções do espírito, crenças que são respeitáveis mas que podem ser livremente analisadas, criticadas, ou mesmo ridicularizadas. Sou homem para concordar. Mas gostaria de ver a reacção do editorialista (ou de alguns editorialistas do "mundo livre") se, em vez de Maomé, o ridicularizado fosse o Deus ou o Profeta do "mundo livre": o Deus cristão ou Jesus Cristo.

Lembra-se o leitor menos jovem da balbúrdia que gerou a encenação "caricatural" da Última Ceia por Herman José? Foi talvez o momento em que o cómico português mais viu ameaçada a sua carreira televisiva. Pois é (quero dizer, valha-me Deus)!...

escrito por ai.valhamedeus [texto seguinte sobre o tema]

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As reformas da justiça (que aí vêm...)

O governo prepara-se para operar uma reforma na justiça, sobretudo no campo do processo penal, que gerará sérias discussões nos próximos tempos. Vai estar em causa o princípio da legalidade versus princípio da oportunidade. O princípio da legalidade, como o próprio nome indica, obriga o Ministério Público a proceder e dar acusação por todas as infracções de que tenha conhecimento. O princípio da oportunidade caracteriza-se, como também o nome indica, pela possibilidade de se agir nuns casos, ou dar prioridade a uns casos e não a outros.

A nossa Constituição optou pelo princípio da legalidade (ver artº 219º, nº1 da Constituição), mas..... Invocando a falta de meios e a necessidade da sua concentração nos grandes crimes (que Duarte Lima restringiu perigosamente...), o governa prepara-se para introduzir o princípio da oportunidade que, historicamente, teve vigências pouco gratificantes. Hitler e Goering tiveram poderes que lhe permitiam vetar a prossecução criminal contra pessoa determinada. Antes do 25 de Abril vigorou o princípio da legalidade. É certo que as condições são outras e o perigo de ditadura pura e dura parece afastada. Pero....

Só quis chamar a atenção para este problema. Em breve a discussão alastrará às profissões forenses e aí poderemos encontrar opinões interessantes. Se quiser saber quais as leis que estão em discussão, pode visitar o site da Ordem dos Advogados.

escrito por Carlos M. E. Lopes

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